Morte de Thomas Lovejoy, protetor da Amazônia que criou o termo ‘biodiversidade’, dá duro golpe nos esforços de proteção ambiental https://bit.ly/3JrYG3Z

Um dos maiores ambientalistas dos últimos 50 anos e grande aliado do Brasil no que tange à conservação ambiental, Thomas Lovejoy, morreu na noite de Natal (25), aos 80 anos. De acordo com sua filha, Elizabeth, a causa da morte foi o avanço de “tumores neuroendócrinos pancreáticos”.

Lovejoy era mundialmente conhecido por ter criado o conceito de “biodiversidade”, um termo que, hoje, define um campo incrivelmente amplo de estudos científicos voltados à conservação de animais e vida vegetal em vários ambientes. A maior parte de seu trabalho, contudo, concentrou-se no Brasil, onde ele lutava junto com organizações ambientalistas locais para promover a preservação da floresta amazônica.

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Captura de tela mostra Thomas Lovejoy, ambientalista morto em 25/12/2021 e um dos mais conhecidos defensores da Amazônia
Formado pela Universidade de Yale e tendo servido como conselheiro ambiental de três presidentes norte-americanos e chefe ambientalista do Banco Mundial, Thomas Lovejoy era mundialmente conhecido pelos seus esforços em defesa da Amazônia (Imagem: Jornal da Cultura, via YouTube/Reprodução)

“Ele realmente colocou a Amazônia no mapa da conservação internacional”, disse ao New York Times o doutor Russell Mittermeier, diretor da organização Re:wild. “Quando toda a conversa sobre a conservação começou, lá nos anos 1960 e 1970, a América do Sul quase não tinha o foco de ninguém, mas Tom mudou isso”.

Muitas plataformas ambientais que hoje são “lugar comum” foram criadas ou pelo menos conceitualizadas por Lovejoy. Um bom exemplo disso é a invenção do “débito pela natureza”, uma política amplamente usada em vários lugares e que permite que países do mundo consigam anistia de parte de suas dívidas internacionais em troca de investimentos em esforços de proteção ambiental.

É dele também o crédito pela criação do programa Nature de televisão.

Em seu trabalho mais recente, segundo o Estadão, ele atuou em parceria com o engenheiro e meteorologista Carlos Nobre, cientista climatológico do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). O resultado dessa relação foi a identificação do “ponto sem retorno” da Amazônia, ou seja, um estado onde o dano à vegetação sul americana será tão grande que, independente de qualquer empenho posterior, ele nunca mais poderá ser compensado.

“As florestas continuam a desaparecer — cortadas e queimadas em pequenos pedaços de terra. Essa falha desafia os nossos esforços climáticos pois, a não ser que as florestas tropicais se mantenham de pé, o mundo nunca vai conter o aquecimento global”, Lovejoy escreveu em um artigo assinado publicado pelo New York Times em novembro de 2021.

Em um estudo de 2011, ele descobriu que, embora alguns animais – como borboletas e sapos – possam sobreviver ao avanço humano sobre florestas antes intocadas, a maior parte da fauna de regiões como Manaus, no estado brasileiro do Amazonas, não se adaptaria às terras desmatadas e urbanizadas pela mão humana.

“Fragmentos [de terra] perdem até 30% de sua biomassa, essencialmente para sempre, devido à vulnerabilidade criada pela queda de grandes árvores”, ele disse à plataforma científica Mongabay. “Fragmentos de centenas de hectares, então, podem perder metade de suas espécies de pássaros em menos de 15 anos”.

Paulo Sotero, jornalista e diretor do Centro de Estudos Brasileiros Woodrow Wilson, disse ao Estadão: “Tive o privilégio de ter Lovejoy como amigo e mentor no trabalho que me coube durante treze anos e meio, de 2006 a 2020. Sua participação foi sempre marcada por sua postura de cientista que deixava pouco ou nenhum espaço para o autoelogio e focalizava sempre o que faltava ser feito e os passos que precisavam ser dados para chegar ao objetivo”.

Segundo estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), publicado em novembro de 2021, os desmatamentos no Brasil aumentaram 22% em um ano – a maior alta da métrica já registrada desde 2006. Noutro estudo – este, do Observatório do Clima -, foi revelado que as emissões de gás carbônico aumentaram 9,5% no Brasil em 2020, ano onde, devido às restrições impostas pela pandemia da Covid-19, o resto do mundo conseguiu reduzir seus volumes de gases poluentes.

Em uma entrevista concedida ao jornal alemão Deutsche-Welle em 2019, Lovejoy não escondeu seu descontentamento com o atual presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL) e o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: “não há dúvida de que ambos estão ignorando o meio ambiente. Eles estão ignorando o que a ciência diz sobre o meio ambiente. Acho tudo isso muito estranho porque, no fim das contas, a raiz da palavra ‘ciência’ é ‘conhecer’. Sem dúvida, isso é muito infeliz, e esperemos que seja um fenômeno de curto prazo. Ele [Bolsonaro] deveria juntar alguns cientistas experientes para pensar sobre o conteúdo que acabamos de falar e identificar oportunidades”.

Questionado sobre o fato do presidente brasileiro ter duvidado publicamente de informações divulgadas pelo INPE pouco antes da entrevista (uma situação que, na época, resultou na exoneração do então diretor do Instituto, Eduardo Galvão), Lovejoy foi enfático em criticar o mandatário: “permita-me colocar desta forma: os dados do Inpe sempre estiveram entre os melhores do mundo e acima de reprovação. E é um erro dele [Bolsonaro] pensar o contrário”.

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