Além de ser a característica física mais marcante da Terra, cobrindo 71% da superfície do nosso planeta, o oceano é o lar de uma incrível biodiversidade, que varia desde bactérias e vírus microscópicos a animais gigantescos, como a baleia azul.
Embora não se saiba quantas espécies vivem nos oceanos, o desaparecimento de um número crescente delas sugere que está ocorrendo, talvez em um ritmo mais rápido do que em terra, uma nova extinção em massa nesse ambiente.
De acordo com o professor do Instituto de Investigação Marinha Borneo da Universidade da Malásia, em Sabá, (UMS), Saleem Mustafa, Ph.D. em aquicultura ecológica, os riscos para a biodiversidade oceânica nunca foram tão altos quanto nesta década. “Agora, mais do que nunca, precisamos de resultados. Uma meta amplamente promovida é colocar 30% da área marinha sob proteção até 2030 – um passo importante que contribuirá muito para a biodiversidade marinha”, explicou Mustafa em um artigo autoral no site The Conversation.
“Salvar o oceano exigirá um compromisso firme dos países marítimos”, disse o pesquisador. “Não haverá uma solução única, mas uma mistura de várias abordagens a serem aplicadas, e não temos o luxo do tempo para fazê-lo”.
Aplicação de novas tecnologias podem salvar a vida no oceano
Para Mustafa, uma medida que pode ser aplicada sem demora é o corte de qualquer forma de incentivo do governo que apoie a pesca insustentável. “Em vez disso, os fundos alocados devem ser investidos na aquicultura sustentável”, acredita o professor.
Soluções baseadas na natureza que estão historicamente enraizadas no manejo da conservação sustentável, como a pesca integrada ao habitat (uma técnica projetada para preservar o ecossistema durante a pesca), são fundamentalmente importantes, mas não estão à altura do desafio que o oceano enfrenta, segundo Mustafa.
É neste contexto que a aplicação de tecnologias emergentes e soluções de ecoengenharia se tornam mais relevantes. “A tecnologia mais antiga impulsionou a capacidade humana de explorar os recursos, mas as tecnologias emergentes têm o potencial de desfazer alguns dos danos ao ecossistema oceânico”, explica Mustafa.
Atualmente, segundo ele, não há possibilidade de o mundo atingir a meta de 30% para áreas marinhas protegidas (AMPs) com as políticas e sistemas de governança existentes. “A maioria dos países declarou AMPs em suas zonas econômicas exclusivas, mas devido à fraca fiscalização da cobertura, apenas 2,7% do oceano pode ser considerado altamente protegido”.
De acordo com Mustafa, a razão para isso é simples: a maioria dos países não pode pagar o grande número de funcionários guarda-parques marinhos e equipamentos de navegação necessários para garantir a proteção dessas áreas.
“Mas há esperança”, diz Mustafa. “Novas tecnologias específicas têm enorme capacidade de ajudar o mundo a atingir seus objetivos oceânicos”.
Essas tecnologias, segundo o pesquisador, incluem sensores, drones, robôs e inteligência artificial, todos os quais podem usar informações em tempo real sobre as condições do oceano e atividades humanas para responder a uma velocidade nunca antes vista.
Mustafa exemplifica como esses recursos podem ser utilizados. “Imagine um peixe robótico equipado com sensores e Inteligência Artificial coletando dados em profundidades oceânicas de difícil acesso ou em condições adversas em alto mar, seguindo criaturas marinhas cujos estilos de vida são atualmente desconhecidos para os humanos e detectando hotspots de biodiversidade, bem como fontes de poluição e pesca ilegal”.
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Drones são cada vez mais usados no monitoramento em tempo real da pesca oceânica, incluindo a operação de embarcações pesqueiras. O mapeamento de habitat e imagens térmicas usando câmeras infravermelhas está atualmente sendo implantados para pesquisar populações de vieiras do Atlântico e rastrear baleias em sua migração.
Segundo Mustafa, corais impressos em 3D e paredões feitos de ladrilhos sustentáveis e ecológicos já estão disponíveis e em uso, enquanto substratos impressos em 3D oferecem uma base estável para tapetes de ervas marinhas ou recifes de coral recém-plantados. “A implantação de tecnologias emergentes em escala pode fazer uma enorme diferença na exploração do oceano e na proteção da vida marinha”.
ONU tem Convenção sobre Diversidade Biológica
Para ele, “as AMPs efetivamente aplicadas contribuirão significativamente para a reposição da biodiversidade marinha e desempenharão um papel importante na reconstrução dos estoques pesqueiros esgotados e na construção de resiliência contra os efeitos das mudanças climáticas”.
A Convenção da Organização das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica contém cinco objetivos e 20 metas para prevenir a perda de espécies, conhecidas como Metas de Biodiversidade de Aichi.
Mustafa explica que a Conferência das Partes, que é o órgão dirigente da convenção, deve agora revisar o progresso dessas metas, determinar as causas das falhas na implementação e sugerir como lidar com a perda contínua de biodiversidade com tecnologia.
“Precisamos de novas estruturas de governança e consenso sobre ação e responsabilidade”, defende Mustafa. “Os países precisam ser capazes de compartilhar informações e medições de dados verificáveis para acompanhar o progresso na preservação da biodiversidade oceânica”.
Para Mustafa, quando todas essas atividades e ações estiverem em vigor, será nada menos do que uma revolução para o oceano.
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